quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Por que você não vai?

-- Você vai comigo na cabeleireira?
-- Pra que?
-- Oras Cláudio, pra me ajudar a escolher o corte!
-- Por quê?
-- Porque quero saber a sua opinião!
-- Não quer não!
-- Claro que quero querido!
-- Hummm.. Vou opinar agora!
-- Tudo bem vamos lá...
-- Corte bem curto!
-- Está louco? Curto? Detesto!
-- Então pinte de preto!
-- Credo Cláudio, não gosto!
-- Que tal a franja?
-- De jeito nenhum!
-- Eu não vou ao cabeleireiro com você!
-- Mas por que não querido?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

No fim de semana

Mochila, roupa velha, tênis velho, meia. Saco de dormir, cobertor, barraca. Fogareiro, comida enlatada, talheres, macarrão instantâneo. Faca, lanterna, agulha e linha, caixa de primeiros socorros. Um garrafão de vinho. Amigos, ônibus, trilha, natureza. Caminhos, árvores, flores, plantas... Cachoeira, banho, liberdade, ar puro... Noite, cobertor, fogueira, amigos. Violão, música, canto. Sono, sol, trilhas, árvores, flores... Cair, machucar, caixa de primeiros socorros, passou a dor. Partir. Trilha, amigos, ônibus, casa.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O assassinato de Joana

            O corpo frio sobre a terra fresca era o de Joana. Ela estava morta desde a noite anterior. Seus olhos, ainda arregalados com a brutalidade do assassinato. Nenhuma moça espera ser brutalmente assassinada na juventude.
            Quando Joana acordou naquela manhã, sentiu-se cansada. Sim, estranhamente cansada. Não teve vontade de levantar, mas as obrigações diárias fizeram-na, enfim, dirigir-se ao banheiro para que pudesse lavar o rosto e começar o dia. A indisposição seguiu-a até a mesa onde sua mãe esperava para o café da manhã. Ao lançar o olhar à filha, a mãe percebeu que tinha algo estranho em seu semblante.
            -- O que houve Joana? – perguntou a mãe enquanto puxava a cadeira para que a filha se sentasse.
            -- Não sei mãe, acordei me sentindo indisposta... É como se houvessem pedras de gelo no meu estômago entende?
            A mãe não entendeu, e deu algum remédio para a moça tomar jurando que toda aquela indisposição sumiria em 15 minutos. O que parecia mentira, pois após os 15 minutos aquela sensação não lhe deixara em paz.
            É claro que Joana não podia imaginar o que ocorreria com ela naquela noite.
            Saiu tarde do trabalho, e sentiu uma brisa invadir todo o corpo. Por um momento isso fez com que se sentisse mais leve, pois não era apenas o estômago frio que podia sentir, sentia também a leveza do ar em movimento. Havia combinado de encontrar uma amiga com quem iria ao cinema, mas esta ligou na última hora para desmarcar. Tivera um problema no trabalho e não poderia acompanhar Joana.
Como não estava com vontade de ir direto para casa e não gostava de ir ao cinema sozinha, resolveu passear pelo parque, ver o lago, pensar na vida... Tentar fazer com que aquela sensação ruim passasse. Achou que talvez fosse solidão, melancolia. Ou melhor, a ausência dela, talvez o que ela precisasse fosse ficar um pouco sozinha. Quem sabe fazer uma análise geral de tudo que havia vivido até aquele momento e o que ainda pretendia viver.
            Caminhou durante algum tempo em frente às vitrines das lojas olhando alguns modelos. Viu um casal aos beijos em um banco e sentiu inveja, pois já estava sozinha há muito tempo e seus relacionamentos pareciam não dar muito certo. Por diversas vezes, acreditou ter algum tipo de bloqueio, algum tipo de doença que afastava os homens. Nunca havia conseguido levar uma relação por muito tempo.
            Sentou-se em um banco a beira da lagoa, quando chegou ao parque. Olhando para a água, lembrava os dias de verão que passava com a família quando criança. Eram dias longos que passavam se divertindo. Ela, as irmãs, a mãe e o pai; que faleceu quando ela se tornara uma adolescente. As irmãs se casaram e ficou apenas ela e a mãe. As duas eram muito amigas e confidentes. Joana tinha uma verdadeira adoração pela mãe e sentia muitas saudades do pai.
            Já haviam se passado cerca de uma hora da chegada de Joana quando ela resolveu levantar-se e passear pelo parque, caminhava lentamente para aproveitar a paisagem. Quando ela estava do lado mais isolado e distante, resolveu voltar. A noite já havia chegado há muito, muito tempo. Joana entregue a seus pensamentos nem havia percebido o quanto o tempo tinha passado. A bruma da noite havia transformado toda aquela linda paisagem em um obscuro cenário, propicio ao que se sucederia a seguir.
            Joana preocupou-se com a escuridão, mas não sentiu medo. Na verdade, achou estranho o fato daquele terrível frio na barriga ter passado no momento que se iniciou a penumbra. Teve uma vontade irresistível de molhar os pés no lago, e foi o que fez. O frio que sentiu ao tocar os pés na água misturou-se ao frio que veio de seu estômago se espalhando por todo o corpo ao sentir uma respiração estranha aproximar-se. Pânico, pânico, era o que sentia agora. Todo o seu estado havia mudado. Seu corpo em alerta avisava que alguém estranho estava se aproximando... Alguém...
- Quem está aí? – dizia ela, com a voz sufocada... O coração disparado... O corpo congelado de pânico sem deixar-lhe mover um só músculo.
            Como não obteve resposta, permaneceu com os sentidos em alerta. Ouviu o que pareciam galhos se quebrando e o pânico aumentou. Não conseguiu pronunciar mais nenhuma palavra. Olhava ao redor, a escuridão e as brumas não deixavam que visse qualquer coisa. Pensou em mergulhar no lago, jogar-se e nadar para o inicio do parque. Talvez fosse uma ideia tola, mas não conseguia raciocinar direito. Não conseguia mover-se.
            Seus pensamentos se perderam quando momentos depois, ela não conseguia lembrar direito como tudo tinha acontecido. Aquele homem brutal havia a agarrado e tapado sua boca... Deu-lhe alguns socos no rosto quando ela ameaçou gritar. Muito atordoada, ela não conseguia falar, não conseguia se mexer, pois o peso do homem e a tontura provocada pelas pancadas que se seguiam constantemente, não deixavam que ela raciocinasse direito.
O tempo naquele momento não existia... Não tinha início ou fim. Pouco a pouco, sua vida, tudo aquilo que havia construído em seus vinte e poucos anos, nada mais valiam. Aquele homem doentio, aquela mente transtornada tirava dela a cada lance uma vida de pequenas felicidades, felicidades das quais ele nunca vivera ou viverá um dia, pois sua alma já havia sido consumida pelo fantasma da amargura.
            Sua dignidade foi a primeira a ser atingida. Seu corpo nu, que mostrou tão poucas vezes a um ou dois namorados, estava ali... Exposto, machucado, magoado. Ao terminar seu ritual egoísta, o homem se levantou, olhou pela primeira vez para o rosto de Joana... Respirava como um animal depois de correr, apanhar e estraçalhar sua presa. Joana não tinha mais forças, um último sopro de vida e dignidade tentava sobreviver a tudo aquilo. Um breve momento de pensamento lúcido invadiu sua mente, e pensou que talvez aquele homem pudesse arrepender-se e deixá-la viver.
Tentando controlar sua respiração ele desviou o olhar do rosto de Joana, pegou um pedaço forte de galho grosso e atingiu com força três golpes na cabeça dela.
Ela... Os olhos arregalados no momento que entendeu que iria morrer, implorava em sua mente, por um olhar apenas de compaixão daquele homem, não queria deixar esse mundo sem poder acreditar que ele se arrependera do que fez a ela, uma moça que nada tinha lhe feito de errado, se tinha dor, com certeza não era ela a causadora... Quem sabe ele poderia derramar uma lágrima de arrependimento.
            Infelizmente, tal lágrima nunca fora derramada. E Joana ficou ali, sua vida interrompida brutalmente. Seu corpo nu foi encontrado no dia seguinte por um grupo que fazia corrida pelo parque.